Felipe

Postado em quinta-feira, 17 de agosto de 2023

9mês

INTP

Libra

6

7

Oneirophobia

Teve uma época que eu tinha medo de sonhar. Meus sonhos pareciam vivos, e não vivos como as empresas de jogos falam pra vender que o jogo é bom ou sei lá, vivos como algo consciente. Parecia que o meu sonho tinha tomado consciência de que ele podia criar tudo dentro daquele momento, e podia, claro. O ponto é, você já teve uma dissociação? Esqueceu que era um personagem do momento em que estava e começou a se enxergar como um espectador do seu personagem? Como quando tá chorando porque algo te deixou mal, mas quando para pra pensar sobre você chorando, por que está chorando e acaba nem conseguindo mais chorar. Agora, o que acha que pode ocorrer quando você dissocia dentro de um sonho? Talvez aí ele fique consciente, quem sabe. Mas pensa comigo, imagina você ser Deus, poder fazer do jeito que você quer, sempre que quiser. Mas então, um dos seus personagens acaba deixando de funcionar como esperado, se tornando um espectador além de personagem, um ator. Neste momento você percebe o quão estranho é o fato de que nunca tinha reparado que aquele estranho personagem sempre esteve ali. Não só isso, ele sempre foi o protagonista, de todas as suas criações. Nessa hora se vê que eram mais sobre ele do que sobre você. A partir daí, meus sonhos ficavam mais detalhados, ficavam mais parecidos com a minha realidade, ficavam mais difíceis de saber se era real ou não. Por sua vez, mais difíceis de acordar. Imagino que estava aprendendo sobre mim, com aquelas estranhas ideias que vinham em mente toda vez que fosse criar algo, aquelas ideias que agora se revelavam apenas memórias daquele personagem que agora chamava tanto atenção. Eram mais sobre ele do que sobre você. Estamos então num momento, numa situação, onde Deus descobre que ele é a criação de um ser, um ser presente na própria criação como personagem, espectador e ator. Descobre que não cria algo a sua vontade de fato, apenas reflexos distorcidos da mente do seu próprio criador. É mais sobre ele do que sobre você. A partir daí, os sonhos começaram a fazer coisas comigo, coisas ruins. Eram terrores noturnos frequentes, eram paralisias do sono, eram gritos de desespero e terror vindo do próprio sonho sempre que ele me encontrava na criação, que refletiam em um subto acordar em silêncio e curiosidade da minha parte. Era como se toda sua crise fosse só "mais um dos meus problemas". Mas era mais sobre ele do que sobre você. Chegou então o ponto, em que o sonho se aproveitava do fato de que eu estava na sua criação e tornavasse perverso. Não tentava me encontrar para me agoniar, criava toda uma realidade única e exclusivamente para me torturar. Foram dias de sede, dor e humilhação. Tudo isso em minutos de sono. Traumas revividos, novos traumas criados, medos desprezados. Dormir se tornou algo que eu evitava. Afinal... Eram mais sobre ele, que sobre você.