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João Victor
João Victor

25d

ENFP

Libra

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Noite no Inferno

Noite do inferno …………… Bebi um bom gole de veneno. — Três vezes abençoado seja o conselho que me chegou! — As entranhas ardem-me. A violência do veneno contorce meus membros, faz-me disforme, abate-me. Morro de sede, sufoco, não posso gritar. É o inferno, a pena eterna! Vejam como o fogo sobe! Ardo como tem de ser. Vá, demônio! Eu tinha entrevisto a conversão ao bem e à felicidade, a salvação. Posso descrever a visão, o ar do inferno não suporta os hinos! Eram milhões de criaturas encantadoras, um suave concerto espiritual, a força e a paz, as nobres ambições, que mais? As nobres ambições! E isso ainda é a vida! — Se a danação é eterna! Um homem que quer mutilar-se está condenado, não é? Considero-me no inferno, portanto estou nele. É a execução do catecismo. Sou escravo de meu batismo. Pais, vocês fizeram minha infelicidade e fizeram a de vocês. Pobre inocente! — O inferno não pode investir contra os pagãos. — É a vida ainda! Mais tarde, as delícias da danação serão mais profundas. Um crime, rápido, que eu caia no nada, pela lei humana. Cale-se, cale-se!… É a vergonha, a reprovação, aqui: Satã que diz que o fogo é ignóbil, que minha cólera é terrivelmente tola. — Chega!… Erros que me são soprados, magias, perfumes falsos, músicas pueris. — E dizer que detenho a verdade, que vejo a justiça: tenho um julgamento são e firme, estou pronto para a perfeição… Orgulho. — A pele de minha cabeça está se ressecando. Piedade! Senhor, tenho medo. Tenho sede, tanta sede! Ah! a infância, a grama, a chuva, a lagoa sobre as pedras, o luar quando o campanário tocava doze… o diabo, nessa hora, está no campanário. Maria! Virgem Santa!… — Horror de minha tolice. Ali, não são almas honradas, que me querem bem…? Venham… Tenho um travesseiro sobre a boca, elas não me ouvem, são fantasmas. Depois, nunca ninguém pensa no outro. Não se aproximem. Tenho cheiro de queimado, com certeza. As alucinações são inumeráveis. É isso mesmo que sempre tive: nenhuma fé mais na história, o esquecimento dos princípios. Vou calar-me a esse respeito: poetas e visionários seriam invejosos. Sou mil vezes o mais rico, sejamos avaro como o mar. Agora isto! O relógio da vida parou há pouco. Não estou mais no mundo. — A teologia é séria, o inferno está certamente embaixo — e o céu no alto. — Êxtase, pesadelo, sono em um ninho de chamas. Quantas artimanhas da atenção no campo… Satã, Ferdinand, corre com as sementes selvagens… Jesus anda sobre os espinheiros purpúreos, sem os curvar… Jesus andava sobre as águas irritadas. A lanterna mostrou-o para nós de pé, branco e com tranças castanhas, ao lado de uma onda de esmeralda… Vou desvelar todos os mistérios: mistérios religiosos ou naturais, morte, nascimento, futuro, passado, cosmogonia, nada. Sou mestre em fantasmagorias. Escutem!… Tenho todos os talentos! — Não há ninguém aqui e há alguém: eu não queria dispersar meu tesouro. Querem cantos negros, danças de huris? Querem que eu desapareça, que eu mergulhe em busca do anel? Querem? Farei ouro, remédios. Fiem-se então em mim, a fé alivia, guia, cura. Todos, venham, — mesmo as crianças pequenas —, para que eu os console, para que se derrame para vocês o coração, — o coração maravilhoso! — Pobres homens, trabalhadores! Não peço orações; com a confiança de vocês apenas, serei feliz. — E pensemos em mim. Isso me faz sentir pouca falta do mundo. Tenho sorte de não sofrer mais. Minha vida não foi mais que suaves loucuras, é lamentável. Bah! façamos todas as caretas imagináveis. Decididamente, estamos fora do mundo. Não há mais som. Meu tato desapareceu. Ah! meu castelo, minha Saxônia, meu bosque de salgueiros. As tardes, as manhãs, as noites, os dias… Estou cansado! Eu deveria ter meu inferno para a cólera, meu inferno para o orgulho — e o inferno do afago; um concerto de infernos. Morro de cansaço. É o túmulo, vou-me embora para os vermes, horror do horror! Satã, farsante, você quer dissolver-me com seus encantos. Exijo. Exijo! um golpe com o tridente, uma gota de fogo. Ah! voltar à vida! Lançar os olhos sobre nossas deformidades. E esse veneno, esse beijo mil vezes maldito! Minha fraqueza, a crueldade do mundo! Meu Deus, piedade, esconda-me, não consigo controlar-me! — Estou e não estou escondido. É o fogo que se reaviva com seu condenado. ………… Arthur Rimbaud

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